No calor da Guerra Fria - João Ernani F.Filho



Em 1991, no prefácio de Costumes em comum, E. P. Thompson comentava o retorno a pesquisas adiadas desde a publicação de Albion’s Fatal Tree e Senhores & Caçadores, em inícios da década de 1970. O motivo principal dessa retomada foi a “emergência da Segunda Guerra Fria”, que teve seu ápice com a decisão da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte)1 de modernizar seus arsenais atômicos, com a alocação de silos de mísseis em solo britânico (o que equivalia a transformar a ilha em alvo certo); logo em seguida, a intervenção soviética no Afeganistão; o acirramento da política de dissuasão (aliás, a teoria de que armamentos cada vez mais poderosos deteriam ataques inimigos indicaria uma situação em que a política quedava supérflua); em março de 1983, a divulgação por Reagan dos planos da Iniciativa de Defesa Estratégica (Guerra nas Estrelas), consistindo na criação de um domo antinuclear sobre o território americano; o anticomunismo como projeção de um Outro ameaçador; os crimes contra os direitos humanos e as perseguições internas na URSS; as articulações entre saberes e poderes que intensificavam gastos com o complexo militar, burocrático, acadêmico e industrial; o risco mesmo de o planeta ser destruído... Mais premente do que escrever histórias era viver a história.